domingo, 26 de abril de 2009

Ponte da Ribeira

Ponte de tabuleiro horizontal, sobre um único arco redondo de granito. As aduelas e os encontros junto ao arco são de granito. As restantes partes, em alvenaria de xisto, pavimento de calçada e guardas em silhares de granito. Ponte medieval ou setecentista. Segundo os registos encontrados, os Távoras senhores de Mogadouro no séc:XVIII mandaram construir várias pontes na região, tal como a ponte de Meirinhos (espero que esta não seja também mutilada com a reconstrução da estrada de Valverde), muito idêntica a esta das Quintas das Quebradas. A ponte da Ribeira presumo que seja medieval, do tempo em que estas terras pertenceram à ordem dos Templários e mais tarde, à ordem de Cristo pois, do pouco que resta, os símbolos gravados nas pedras do arco são característicos dessa época e, talvez, tenha sido reconstruída no séc:XVIII.
Quando criança, tive bons momentos nesta ponte e no moinho do tiu Lucho, que estava do lado esquerdo. Pena é não ter fotos para mostrar o belo quadro que era, a ponte e o moinho.
Em finais da década de 70 foi construída a estrada que liga as Quintas aos Estevais É nesta altura que os responsáveis municipais cometem o grave atentado ao património, substituindo o pavimento e as guardas de granito por uma placa de betão e guardas em tubo galvanizado. O moinho (propriedade privada) foi arrasado e cheio com entulho. As cantarias da ponte, gravadas com os símbolos dos antigos canteiros, foram parar aos alicerces de uma casa, como se de simples pedras se trata-se.
Esta ponte, destruída de um dia para o outro (pois estava em óptimo estado de conservação), foi preservada e cuidada durante séculos por aqueles que a utilizaram e com ela conviveram em perfeita harmonia, gentes estas que souberam guardar a sua memória na herança legada no tempo. Mas eis que de tempos em tempos surgem estes senhores dos cargos públicos, com rei na barriga, sem cultura, sem respeito pelos valores patrimoniais, que são de todos nós, e quando incham, é o bota-se abaixo. A nossa herança cultural está à mercê desta gente, que também faz parte da nossa cultura (onde ninguém é responsável pelo que é público).
A ponte em 2006 quando da derrocada da barragem da Fonte Santa

sexta-feira, 10 de abril de 2009

À Cruz



À CRUZ

O lugar da Cruz, a sul da aldeia, onde se cruzam os caminhos da Quinta de Cima (Casinhas) e da Quinta de Baixo (Eiró) com o caminho da Veiga e o da Ribeira, também conhecido pelo Atoleiro da Costa, devido ás águas nascentes na encosta. Este foi escavado pelos populares em 1907. Esta data estava gravada na rocha, logo no inicio do caminho, mas na minha última passagem pelo local constatei que as máquinas da ignorância andaram a limpar este caminho e a data desapareceu para sempre, tal como os parapeitos da ponte da Ribeira, a quando da construção da estrada dos Estevais, sem que uma voz se manifestasse em defesa do património local.
Contavam os antigos que à Cruz existiu a primeira capela de Sº Miguel. Como o lugar de culto ficava deslocado do povoado, resolveram construir uma capela na aldeia. Mas nem todos estavam de acordo quanto ao local da construção, uns queriam-na na Quinta de Baixo outros na Quinta de Cima, então resolveram colocar o santo em cima de um burro e assim onde o burro parasse seria construída a capela. Por duas vezes que o burro deu a volta à aldeia foi sempre parar ao local onde hoje se encontra a capela, parece que o burro era da Quinta de Cima.
A cruz de SºMiguel, que está à Cruz, foi mandada fazer pelo meu avô Alípio Fabião em 1973, pouco antes da sua morte. O artista da cruz foi o tiu Álvaro Rentes.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Fonte Santa


Na EN de Freixo de Espada à Cinta - Mogadouro, a 4km depois de Lagoaça, toma-se à esquerda por uma estrada em terra para a Quinta da Fonte Santa, nesta pequena povoação de alguns currais e casas, desce-se por caminho íngreme até ao fundo do vale para a Ribeira da Fonte Santa.
Num vale abrupto entre grandes fragas de xisto, corre a Ribeira Santa. As explorações mineiras, desactivadas, encontram-se na margem oposta, as escombreiras da sua exploração formam uma “duna” de 50m de altura de detritos cinzentos, barrando o olhar de quem está no local da imergência da água. Mas acima dessa duna cinzenta rompem aguçadas picos de xisto que descem até ao vale. Facilmente se adivinha o percurso tortuoso da ribeira, actualmente represada por diques formados por esta escombreira. Numa escarpa que se ergue como ilha do que era o leito do rio, por baixo de um sobreiro isolado uma gruta, onde o nosso guia, o arqueólogo Nelson Campos, nos fez ver um conjunto de pinturas rupestres de formas antropomórficas.
Segundo informação de Nelson Campos, a nascente esteve coberta pela escombreira da mina, que funcionou até finais da década de 80, só recentemente foi novamente desentulhada.

Na encosta da Serra do Valmeirinho encontram-se várias minas de sheelite no sítio denominado Quinta das Quebradas, do termo de Mogadouro. Aqui se tem referido às vezes esta nascente, mas na realidade, embora no limite do concelho marcado pela própria ribeira, pertence a Lagoaça, de Freixo de Espada à Cinta” ( Almeida 1970)

Natureza das águas:
Subgrupo das Sulfúreas sódica, hipotermal. Alcalino sódicas (Almeida.1970)
Indicações:
“ em doenças de pele, principalmente nos eczemas crónicos”
Aqui se juntam os doentes , acampando debaixo de quatro oliveiras, lavando-se na concavidade da rocha tantas vezes ao dia e tantos dias até que se vejam de todo curados.” (Almeida, 1970)

A nascente é actualmente pouco utilizada, a descida difícil e as escombreiras das minas afastaram os seus utilizadores. O caudal muito pequeno, formando uma pequena pia, com uma capacidade de cerca de 10litros, mas no rochedo xistoso e inclinado por detrás da imergência, notam-se pequenas imergências, saindo de fracturas da rocha.

"Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa"